Neve e gelo e o manual que ficou por abrir... Fria, será que sou uma pessoa fria? Será que sou neve humana?
A mudez persiste, e a minha alma despida tem frio e tirita por estar ruas molhadas por chuviscos púdicos, que nem chuva nem neve têm coragem de ser. E o silêncio parece-me prateado e agudo.
Vou pensando que a neve queima os incautos. Ouço Porto Côvo e fecho os olhos, transportada que sou pelo calor das palavras tristes e velhas que me falam de lua e pêssegos cor de laranja. Transforma o fraco em coisa forte (tudo se renova), diz o Tiago num cesto de frutas, de palavras frutíferas e doces, com um travo amargo a quem nelas pensa. Fortalecem, estas palavras bebidas!
Mas a neve persiste... Como a mudez prateada de quem não sabe perder e me recomenda manuais do gelo que só resultam na teórica equação de quem parece não sentir, mas que sente demais.
Neve humana somos todos nós...
Ri-me muito. É bom... Tive duas boas razões: o meu clube ganhou e o meu clube ganhou ao eterno rival na presença dele.
Confesso: no início senti-me atraída por aquela gente de vermelho a berrar e gritar em uníssono. Mas clube de coração é isso mesmo, ainda que a outra parte do meu coração estivesse naquele estádio a torcer e sofrer pelo adversário da minha equipa ... (o lado errado do meu coração está mudo porque não sabe perder e nem sei que sentir e pensar sobre isso) ...
Foi uma descarga de adrenalina, e só não é uma noite melhor porque está frio e a mudez me incomoda.
Só... porque sem o olhar mais doce a noite é desabitada de carinho escondido. Sem as piadas fáceis, não sorrio da mesma forma que o faço quando me irrito com ele.
O que estou para aqui a escrever??? Não!!! É verdade esta solidão, mas é minha. Não posso sentir esta ternura por quem foge da minha alma como se fosse a escuridão da bruma e da morte...
Já não sei, nunca soube, mas tenho a certeza desta nostalgia do sentir (a mudez dele rima com a nudez da minha alma).
Fui ao café onde passo o tempo quando me preparo para a independência rodoviária, onde me conhecem e sorriem porque eu sorrio e troco alguns pedacinhos dos meus tempos livres.
As mesas são azuis, e têm tampo de vidro, era nisto que estava a reparar quando me ocorreu o pensamento de que estou sózinha. Só, porque sózinha, como todos os diminutivos, apela à pena fácil, à clemência de quem não está melhor que eu.
As mesas são azuis, e em todas estão várias pessoas. Só a minha me faz companhia solitária, porque as outras descansam enquanto as pessoas conversam.
19h45, o homem já lá deve estar. E mais vale só no meio da rua, como quem espera, do que no café porque não vem mais ninguém juntar-se à minha mesa.
Espero... como sempre atrasado. Espero, felizmente ao frio na rua. As mesas azuis já estão quentinhas no café fechado.
Sempre gostei de ter tempo e espaço meu. Ou sempre quis gostar. Mas hoje percebi que são azuis as minhas correntes, e cegas à minha vontade e ao meu querer.
Fujo para quem foge de mim. Mas ao menos encontro-me.
Sou um vidro que se quebra para ser saída de emergência. Foi a conclusão que cheguei. Já são muitas fugas para a frente, alguma coisa havia de aprender...
Sou urbana, não vivo sem o frenético, sem o ruge-ruge e o fumo, sem o ruído e a confusão.
Defino-me no que sei, e não quero pensar no que sei. Sei que o arco-íris me encontra no meio da cidade e que o cheiro da minha escola primária ainda me invade quando não espero, e que gosto de comer gelados no inverno. É meia noite e está frio.
Sei que este espaço já não é dele, porque ele não quer.
Ele era o tu. O meu tu, o ele. Mas agora já não. É ele. Podia dar-lhe um nome, um rosto, um pseudónimo, mas o que o descreve não encaixa, não serve. Traduzindo, dava "Pateta", mas o Pateta faz rir ou sorrir. E ele não. Faz sonhar e voar em filmes que não se traduzem porque não estão em português, nem noutra língua, estão na mudez e na nudez do que eu sinto. E ele não.
Não tenho palavras hoje. O rodopio que me envolve cala o ruído da TV, o martelar do teclado, por onde me saem pedaços de alma que ninguém visita - porque não quer ou porque não deixo.
Estou habituada à vida... mas à repetição da vida não me habituo. Não é a dor de não saber onde dói. Sei exactamente, com precisão cirúrgica... É a dor de saber onde dói, como dói... e que vai doer até à próxima nódoa negra. E a dor de saber que ele arde e cura, alivia e esfola.
Tem andado gente à minha procura.
Eu, por exemplo ...
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