O tempo das coisas que se recordam

1 gotas de arco-íris

Trago em mim. Trago de mim. Trago que sabe ao que se partilha sem se dizer. Traços de carvão.
Cheiramos a saudade quando estamos frágeis. Tresandamos a vulnerabilidade quando os nossos olhos nos enganam e nos levam em busca de quem já partiu. E é na ausência que nos esgotamos, uma e outra vez, um dia mais, uma noite mais, mais um pouco, até que os estilhaços se reunam com cola de brincar.
Então, esta noite sou bafejada pelo calendário. Preferia não ter memória e não me recordar dos som dos meus passos enquanto ouvia essa voz que já não esqueço. Mas recordar traz esse aroma a ti, indelével. Cheiras ao meu ci
nto laranja, que tinha nesse dia. E às luzes do espectáculo que fui ver. E ao sorriso de quem se depõe. Se entrega e se resume.

Faz hoje um ano que dissemos coisas das
quais nos poderíamos arrepender. Ninguém sabe, ninguém lê. ninguém viu. Quem viu? Quem foi? Beija-me o nome, dá-me a mão. Só faz sentido assim ser, já que nenhum de nós faz sentido.


[Fomos mãos.
Fomos músicas e melodias.
Fomos travos e sabores.
Fomos frases e olhares entrecortados.

Foi o frio, muito frio, numa noite.
Foi um túnel, muito escuro, que se fez luz.
Foi uma conversa, uma saudade que resolveu abrir-se em dois peitos sem saber onde iria emergir.
Foi um abraço que se materializou no meio da névoa. E se fez lume.

É uma data.
É uma data no calendário.
É uma data no calendário que se dissipa no tempo.
É o tempo em que recordo o sabor das tuas palavras e a doçura dos teus gestos, a alegria incontida no teu olhar e a cumplicidade de quem sabe voar.]


Está quase, é só uma data, a data em que me desadormeceram de mim. Nada temo, porque a luz está comigo...


0 gotas de arco-íris

Queria tanto parar aqui, dizem uns.
Eu não. Não queria parar, muito menos aqui. Aqui faz frio e não sei onde estou. Não vejo a luz do dia, nada irradia calor.
Os dias sucedem-se, e pinto a alma com cores alegres, mas esmaecem, descoloram rapidamente.
Nem sempre fui assim, nem sempre tive as lágrimas a rasarem-me os olhos quando menos espero, nem sempre estive escuridão à minha volta sem desvendar uma nesga de ar fresco. Isto não sou eu, não quero ser este pedaço de nada que me encontro.
Acordar, vestir, trabalhar, embrenhar-me em rotinas. Capazmente. Competentemente. Ou talvez não. Ou então automaticamente. Ler nos olhos o que as palavras não dizem... mas para quê? Para quê perder o meu tempo? Porque não sei o que fazer com o tempo, ele é tão só como eu, mas permanece, desfigurado, enquanto eu me arrasto em pedras de almas de lama, e suja como só a solidão consegue sujar. As minhas mãos, nada seguram. Os meus olhos pregam-me partidas infantis, leio nos olhos, mas não sei ler nos lábios, porque os lábios se fecham porque nada há a dizer. E quando o silêncio chega, o frio adensa-se. Acomoda-se e instala-se.

Agora pareço um vazio, nem eu tenho palavras. As pessoas assustam-me com a sua felicidade, verdadeira ou momentânea, mas felicidade, daquela que eu não me lembro de conseguir sentir nos últimos tempos. Eventualmente o peito deixa de doer. Eventualmente é uma palavra estranha, traiçoeira. Sempre que penso que já parou de doer, a luz não me aquece: queima.
Frio. De morte. Estou morta. É isso. E não há Deus para os que se suicidam sem o fazer. Não há salvação no desânimo de quem nada entende. As palavras deixaram de fazer sentido. Neste momento, nada faz sentido. Presença, ausência, arte, escrita, palavras, nada disso faz sentido. Quem sou eu, de novo?
Alguma coisa terei de ter sido, um dia. Alguma coisa teria de ser, um dia. Não hoje, nem ontem, muito menos amanhã. Amanhã lá estarei, uma vez mais, sempre uma vez mais. Acordar, vestir, dar asas à rotina, talvez a rotina voe mais alto que eu. Talvez um dia saia da rotina, talvez um dia volte a ser eu, a fazer sentido, a ser um sorriso genuíno e não um exercício muscular.
Preferia não saber escrever. Preferia não ter sabido amar, rir, chorar. Preferia a luz ingénua à dor consciente.

Mas não se escolhe...


Enquanto ficavas ...

1 gotas de arco-íris

... foste impregnando o ar com esse cheiro a saudade.

Trouxeste o vermelho de volta. Já me tinha esquecido de como doía o vermelho quando não estás. E até me tinha esquecido de como dói o vermelho quando estás, sem estar. Eras uma dor esbatida, escorrias de uma caverna chamada saudade, mas estavas guardado, num cofre vermelho, guardado e escondido do lado esquerdo. Bem escondido, bem tratado, bem amado, bem esquecido.

Nem tinhas de chegar. Parece que a minha fúria foi contida na indiferença de um sorriso desfeito pelo teu rosto fora. Apetecia-me rasgar-te o sorriso, frustrar-te a indiferença, abanar-te, acordar-te, sabendo que estarias lá.
Nem tiveste de chegar. Bastou levantares a ponta do véu vermelho da saudade, tatuaste vermelho em mim, e por isso não te perdoo enquanto te amar. Ouves? Não te perdoo. Nem por vires lobo manso submisso partilhar a alegria de escutares o passado que nos juntou e nos separou. Não te perdoo. Não te perdoo vires acordares-me da letargia a que nos remeti, ao esquecimento a que te votei. Ainda por cima despertares-me a vermelho... O nosso vermelho. O teu vermelho escrito em mim, escrito vermelho por ti.
Eram fios, lembras? Frágeis, ridos e tecidos. Eram gotas, lembras? Eram sons, eram casulos, eram tocas, eram papéis, eram figuras, eram coisas, coisas simples, coisas simples como éramos nós contra o mundo. Pois bem, o mundo venceu-te, e eu faço parte do mundo agora. O que desprezas, pensado tê-lo amado. Não te perdoo.

Ainda ouço agora. Ainda vejo agora. O teu sorriso, indiferente. A tentar ser indiferente. Carregado e pesado. Não de culpa. Nunca de culpa. Só de distância. Partilha-te com quem quiseres, o mundo espera-te, cheio de nada. Mas não o vermelho. Esse, esse vermelho feito nuvens, feito tempestade, feito palavras feitas livros, feito noites de Verão, feito lonjura, feito foto, feito mais e mais, feito água, vermelho tudo feito nada, esse vermelho, é meu.


(fui ouvir-nos de saudade do que fomos, do que éramos quando fomos mais, do que não seremos quando não formos o abraço que te amo)


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