O tempo das coisas que se recordam
Em 22 novembro 2007 choveram pedacinhos de Green Tea | E-mail this post
Trago em mim. Trago de mim. Trago que sabe ao que se partilha sem se dizer. Traços de carvão.
Cheiramos a saudade quando estamos frágeis. Tresandamos a vulnerabilidade quando os nossos olhos nos enganam e nos levam em busca de quem já partiu. E é na ausência que nos esgotamos, uma e outra vez, um dia mais, uma noite mais, mais um pouco, até que os estilhaços se reunam com cola de brincar.
Então, esta noite sou bafejada pelo calendário. Preferia não ter memória e não me recordar dos som dos meus passos enquanto ouvia essa voz que já não esqueço. Mas recordar traz esse aroma a ti, indelével. Cheiras ao meu cinto laranja, que tinha nesse dia. E às luzes do espectáculo que fui ver. E ao sorriso de quem se depõe. Se entrega e se resume.
Faz hoje um ano que dissemos coisas das quais nos poderíamos arrepender. Ninguém sabe, ninguém lê. ninguém viu. Quem viu? Quem foi? Beija-me o nome, dá-me a mão. Só faz sentido assim ser, já que nenhum de nós faz sentido.
[Fomos mãos.
Fomos músicas e melodias.
Fomos travos e sabores.
Fomos frases e olhares entrecortados.
Foi o frio, muito frio, numa noite.
Foi um túnel, muito escuro, que se fez luz.
Foi uma conversa, uma saudade que resolveu abrir-se em dois peitos sem saber onde iria emergir.
Foi um abraço que se materializou no meio da névoa. E se fez lume.
É uma data.
É uma data no calendário.
É uma data no calendário que se dissipa no tempo.
É o tempo em que recordo o sabor das tuas palavras e a doçura dos teus gestos, a alegria incontida no teu olhar e a cumplicidade de quem sabe voar.]
Está quase, é só uma data, a data em que me desadormeceram de mim. Nada temo, porque a luz está comigo...
:*