(Estou a ouvir a nothingman.
Estou a trautear a letra.
Estou a pensar que o tempo é o que fazemos dele.)
Somos uns merdas. Só falamos de merdas. Quero lá saber se é ou não é penalty ou se Coimbra tem mais encanto na hora da despedida. Estou-me absolutamente nas tintas. Afinal não estou. Porque é importante para ti. Por inerência parece ser importante para mim. Não que o planeie ou tente. Simplesmente é assim. Acho que já nem sei se o quero. Mas isso não parece importar...
Venha quem vier sentar-se ao meu lado, estará sempre o teu lugar vago.
Curiosamente o teu traço não se apaga com o tempo. Não se desvanece nas horas mortas. Não se apazigua com traços de outros ou palavras alheias. Não se engana com pouco nem com muito nem com tudos de outros. Estranhamente entraste sem fechar a porta, instalaste-te onde não sabias e deixaste-te ficar. Repousaste na janela de mim e de lá viste o sol e a chuva, e a neve, lembraste-da neve (e a marginal, que sorriso)?
Pois eu lembro. E é por isso que não me importa se é ou não penalty. Só me importa o dia em que vais ocupar o teu lugar.
... para partilhar ...Eu quase amei
A forma como tu mentias
Limpando os pés ao meu sorriso.
É claro que achas que eu não presto,
É claro que achas que eu não sirvo,
Foi no teu amor
Que algo se perdeu
Foi no teu amor
Não no meu
Eu quase amei
A forma como tu me vias,
Logo eu amo outra pessoa
E eu não me importa se eu não presto,
Eu tenho planos para lá de mim
E tu és só o que eu te empresto
Foi no teu amor
Que algo se perdeu
Foi no teu amor
Não no meu
Manel Cruz - Foi no teu amor
[quem mais?]
Sei que houve um dia em que o sol nos fez irmãos.
E que pelos breves segundos em que nos despimos de cicatrizes, fomos um só. Houve esse tempo, e depois a maré espumou-se em fiapos de nada.
Trago-te comigo. Dóis de cada vez que decido fechar-te num quarto escuro do lado esquerdo de mim. E dóis ainda mais na doçura da vingança cheia de subtilezas. E depois, as palavras que nunca dizem tudo, somos hábeis em não dizer o que somos, o que fomos, o que queremos.
O relógio é apenas um instrumento de tortura quando nos tocamos sem nos ver. E tocamos mais do que o corpo se despe em pele.
Entregaste-me num campo, floreado de sóis. O teu sorriso ficou preso à minha mão e quis guardá-lo para os dias de chuva. Os nossos dias.
Porque é que os nossos dias se atormentam de silêncios entreabertos? Porque se fecham os lábios em vez de anunciar ao céu que somos bem maiores quando estamos de mãos dadas num abraço fechado?
Que chova. Porque onde houver chuva, estarás comigo e eu contigo.
Eu pensava que tinha segurado as rédeas da distância. Iria jurar a pés tão juntos que se fundiriam que estava a melhorar, que racionalmente o meu esforço de ter uma carapaça tão resistente como as tartarugas me protegeria estaria a surtir um qualquer efeito.
Teria sido capaz de oferecer o meu dedo mindinho a quem duvidasse que "já não dói", como diria o homem de prata. Estava quase levianamente pensando iria voltar às origens, e que "i am mine" até aos confins mais recônditos da minha triste e ingénua caverna mental.
Obviamente que fui esbofeteada pelo gerúndio mais prepotente que poderia ter usado. É tudo uma enormíssima e opípara mentira, quase tangível, quase palpável, mas os meus dias são apenas quase... quase bons, quase maus, quase cheios, quase azuis. Quase que tento não olhar pela janela da saudade, que se estende por quilómetros de mais, ou de menos, ainda estou a tentar a recta final do esforço que me foi pedido. Quase me atrevo a sorrir a quem eventualmente me retribua, por piedade ou enfado, por sinceridade ou por educação polida. Não importa. Um qualquer momento de não sentir chegaria. Um momento sólido em que aceitasse que "fico melhor assim" não venha seguido de "em todo o caso vai pensando em mim". Um cubo. Uma esfera. Uma mão. Um alguém. Preferivelmente eu, mas se fores tu, tanto melhor.
[De todos os lados, o enfado e o cansaço. A sirene a acusar que os sorrisos e os asteriscos são pouco mais que gestos rotineiros. A certeza de que não caibo dentro de mim. A vontade de mandar toda a virtualidade para a puta que a pariu e de me fechar à espera de ser encontrada, sabendo que não irá acontecer. Some things are not meant to be... Não sou eu que vivo. Nada vive em mim, nada merece viver em mim, nada quer sequer tentar viver em mim. E eu não me alimento de relações asteriscadas a cor-de-rosa ou azul, mas de pequenas gotas de sol nascidas à beira de mim]
A ouvir: Pearl Jam, Black
(nem de propósito)
Detesto os meus dias quando me sinto inerte e apática.
Mas há qualquer força enorme que me guia e me devolve a mim mesma. Na ausência do espaço e do tempo que não me concedem. Tudo me fará bem enquanto for dona de mim.
O fumo baço dos dias em que sou muda traz-me a dor de não ser verdadeiramente eu dentro do meu corpo, esqueço-me de mim e de nós, julgo que nunca nos vi nem encontrei num qualquer caminho. Esquadrinho as horas na busca de uma voz que não tenha sido sempre o meu monólogo ou os monólogos cansados que sei de cor. Não sei de onde vem a força, nem de onde vem a calma, não vislumbro as asas que um dia tomei por minhas.
Aprendi a palavra morrinhento, e é como me fazem sentir. Um apagão de promessas desfeitas.
Sigo-me à luz. Na escuridão não! Desenlaço-me da terra e volto a esse lugar. Onde já não está ninguém.
A laranja descasca-se lentamente
e fica sempre o cheiro a recordar
que um dia se saboreou um beijo
onde os risos nasceram leves
para dormirem esquecidos
(worry not)