I should have seen it coming (well, i've seen it before)

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Aquela sensação de não conseguir despir mais a casca velha. Aquela insistente e viscosa impressão de se ter esgotado o sorriso depressa demais. Aquela verdade clara e evidente, que me diz adeus, enquanto a outra mão me tenta puxar para o vazio.

Especialmente, aquele misto de expressão facial, que não chegou a ser um sorriso, destroçado pelo quente feliz, pelo sal da partilha fermentado com esperança. Aquele quase crer que se quis querer mais forte.

Engana o desencanto, faz tanto frio aqui. Não há luz lá fora! Nunca houve, apenas reflexo, como as luas e as marés, que apenas são reflexos, nada são por si.
Eis-me aqui. Dança para mim, eu já me quedei, o meu corpo não obedece. Dança ... mas dança longe, meu amor.


Pólvora

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Que fiquei com tanto para dar que sobejou de mais.
Que as tuas mãos me faltam, no seu toque forte. E quando ouvi, fiquei a amar-te ainda mais. Estilhaços de ti, restos de ti, que se amontoam no chão do meu corpo. Ainda te sinto à entrada, à porta, a sorrir.
Sei que um dia vou voltar. Um dia, quando o frio do vidro fosco se dissipar e o teu calor não permanecer neste quarto, que me enlouquece pela tua ausência.

Íamos gostar disso, meu amor.


A ouvir:
Ornatos Violeta - Ouvi Dizer


Cartas

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... daquelas que ao ruir não deixam nada.

Quem me dera ter o sorriso tatuado na cara, para sorrir sempre que encontro o nada.
Quem me dera acreditar que ainda sou eu, ainda, depois de tudo.

Implodem, parecem enfeites de carnaval, a pairar, a esvoaçar, cheios de alegria colorida e vazios afinal.

Quem me dera ter contado os passos, só para saber o caminho de volta.
Quem me dera não ser eu aqui.


E deixam apenas um buraco, uma cratera, bafienta, cheia de remorsos por ter demorado tanto tempo a formar-se. E um longe. Uma distância. Uns quaisquer cumprimentos, que de nada servem. Sentidos pêsames ou olás tartamudeados. Irónicos e dispensáveis.
Quem me dera nunca ter olhado para aí.
Quem me dera nunca ter descoberto.
O tiro não me passou ao lado. Nunca passa...


Fumo

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Cheiro ... Sinto ...
Vivo e respiro.

Não sei porquê, o cheiro traz-me de volta ao que já foi. E dói, a leveza do peito ao saborear o que foi. E já não é.

Cheira a folhas.

Depois conto-te o quentinho das margens dos livros escrevinhadas.


Get the fuck out

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Eu tentei. Repetida e dolorosamente. Acho que no fundo até queria mesmo ter-te aqui ao pé, nessa moldura mnésica. Quase por acreditar que eras melhor que eu, que eras mais, tudo o que eu nunca seria.

Sabes o que és? Falsidade, mentira, mas daquela disfarçada de abraços que se quereriam dar, não fosse todo o seu propósito a esterilidade e a manutenção. Agora, hoje, sei. Nem que procure mil anos, nunca te encontrarei aqui. Nunca cá estiveste. Entendo isso no etéreo que chamam amor, nunca o entenderei na amizade que supostamente nos uniria além.
Desaparece-me da frente, leva o espólio que quiseres, aliás, sempre foi teu. Mas desaparece-me. Não quero ter a ver com o nada vazio e sorridente que és. Não me ofusques com o teu brilho, que enfeitiça e cega, mas nada dá.


Não

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Recuso-me a seguir esse rio, conheço as margens de cor, sei cada folha do caminho, cada pedra que empata as passadas mortas por antecipação, tacteio o percurso se necessário for, já o calcorreei, embalada em sonhos feitos fumo e feitos nada.

Sinto, mas é um sentimento espesso, denso e opaco. É como se uma sirene virtual se alojasse no meu cérebro e me repetisse regiamente que não vá por aí. Ainda assim, um qualquer vento destravado me sopra para ti. Impele-me, como se eu fosse uma canoa. E novamente a seta de selecção...

Os meus dias esvaem-na na quimera do teu rosto, e quase o reconheço nas minhas mãos. Tento apagá-lo, remover cada traço da minha memória, mas a plenitude do teu sorriso incomoda-me. Assusta-me.


A ouvir:
Violent Femmes - Please Do Not Go


Sim

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Puxo um pouco mais o lençol amarfanhado, e está calor, encontro a ponta que ficou entalada sob o colchão. Nunca cessa de me pasmar, como consigo encontrar as coisas perdidas. As coisas. Estamos e somos rodeados de coisas. Eus e tus, eles e nós, que mais nada são que não coisas.

Abre-se um céu de dúvidas, encontro a lua e ela só me faz rir. E vejo, claras e não difusas, as estrelas onde alicercei toda a minha delirante verborreia. Inspiro, há tanto tempo que não entendia, que não havia perspicácia emocional em mim...

Penso em retrospectiva, sim. Há ano e meio que sei que houve uma flecha desviada que não me devia ter acertado, mas que o fez impiedosamente. Tentei cativá-la, e ela debateu-se, como um pássaro que não suporta grades. Tentei esquecê-la, e ela não me visitou. Encontrei uma outra coisa, uma quase vida, um quase sonho, onde me atraquei, onde fui feliz, onde uma seta destruiu a flecha.
Mas as coisas são muitas coisas. As flechas podem ter asas, como as da fénix, e basta uma faísca para as fazer renascer perigosamente. Demasiado, e eu sou de excessos cortantes e laminares.

Volto a encontrar a ponta do fio. Do lençol mortalha que teci e desteci, que fiz e desfiz. Agora entendo o brilho soturno de tempos idos.


Quero cá estar amanhã ...


A ouvir:
Ornatos Violeta - Coisas


A noite dos fantasmas

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Ergues-te no meio da bruma, a medo. Dás sentido, dás cor, és sentido e tens cor, nos olhos, no rosto, no coração. E o mundo estremece quando sorris, quando te deixas ser, apenas ser, sem gestos nem disfarces. E rio, sorrio, perto do rio, que me sustenta, rio para me aguentar.

Estava tão longe... Estive tão longe, e o tempo desfez-se em ínfimas partículas de arco-íris que trazem escondido o teu cheiro, a tua mão, fria, que se faz quente quando me toca. Eu amo, mas preciso de saber porquê.

Fechei, eu sei que não me esqueci de fechar a porta e deixar-te lá fora, ao frio e à chuva que me desejaste outrora. Eu sei, eu quis demais, mas entendo agora que nunca te deixei. Dás sentido, és sentido. Só que eu já não sei, mudou a força da razão, e não fui em que a mudei, e em vez de encheres o ar com a luz que te traçava o rosto, trazes a tristeza de saber que o que foi não volta a ser. Amo-te, pelo que me deste, pelo sorriso que desenhas em mim, amo-te pela certeza de te conhecer como pouca gente, amo-te, sim! Mas não assim, não agora, não sem provares da incerteza que agora guardo em mim, vinda de uma terra distante, de um nome distante, de uma cor diferente e cheia de tonalidades que um dia julguei que poderias ter entendido.


Diz-me, como foi saber que deitaste tudo a perder?


Assim mesmo

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Violento e repugnante. Irado e instável, agora que me aglutinei com toda essa comunidade gigante de apáticos estonteados. Eis o meu estado. E sabes? Adivinhas?

Nojo? Nojo metes tu, nesse medo, nessa gruta, nesse esconderijo húmido, onde não te dignas a enfrentar o vento pela frente. Metes nojo, sim! Se estivesses aqui, eu, o vento, cuspir-te-ia na face e dir-te-ia que apenas sobrevives, não vives. Quem vive, ama e reluz. Tu? És feitiço, mortiço e mortal, candeeiro fosco, vitral apagado sem convicções. E ainda assim, persisto, insisto e desisto.

NOJO METES TU! Enfia isso pelo cérebro, pela boca adentro, pelos olhos, pelos sorrisos, qualquer coisa. Mas aprende, vive, esquece, resiste. És tão só o nada que me consome e me perde. Há uma linha, pequena, pálida, inviolável, entre nós. Chama-se verde, porque eu sou azul. Tu és transparente, puta lamentada do nada que se fez e pariu.


Caubói

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Ia ontem para o ensaio, a pensar que tinha saído de casa sem escrever, quando isto me atingiu nos tímpanos como um raio. Até poderia ter dedicatória, mas para quê?



Que desculpas inventou
Para o fazer esquecer
Que ele tinha culpa
Que deitou tudo a perder

Com pena de si próprio
Não soube o que fazer
Para virar a seu favor
Esse estigma de entreter

Então ignorou
Quem não vendia a sua alma
Em troca da rotina
Em que se metia

Tudo o que tem de mal
Veio então ao de cima
Um sonho que ardeu
Que ansiava ser só seu
Só seu
* Bernardo Barata *
(para consultar -> aqui)


Escoam-se

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... por entre os meus dedos de areia. Por entre o sol que persiste nas ondas do meu cabelo. Em cada poro de pele, em cada suspiro infundado e automático, tão profundo como a ausência do meu ser em mim. Vem a luz, mas não a toco. Pareces tu, lá fora, quase juro que é a tua voz, o teu riso, quase o deslindo no fio de lã que teci para te não perder. Ou para não te encontrar.

Eis o tempo! Assoma à janela e acena, veemente. Mas o que faz o tempo aqui? O que fazes tu aqui? Encontro-te aqui, mas como?

Desculpa, já me esquecia que fazes parte de mim, és tu em mim, eu em ti, e a viagem que nos espera no peito dessa coragem que nos impele...


Eu vi, mas não agarrei ...


gritos mudos

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Escrevo e rascunho, rabisco e mordisco o papel virtual.
Só me traem as janelas que teimam em não se abrir, por mais que empurre e que puxe, e que parta os vidros, eles parecem indestrutíveis, imunes à minha raiva de tudo o que era, e agora já não é. Não escrevo a lápis, não me arrependo das palavras, cruas ou vulneráveis, amargas ou doces, escudadas num amor que não encontro no fundo dum cofre que apenas eu conheço a combinação.
Não me apeteces. Nem a luz. Só o escuro e o pequeno casulo.


Mata-se a fome de cão

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Quero ir. Quero abraçar o céu e saborear o imenso ar que às vezes se ri para mim. Quero aproveitar essas vezes, esses lúcidos e fugazes instantes em que sou eu de novo, e me ergo da bruma das minhas cinzas cremadas ainda eu estava viva. Já morri tantas vezes que sou, nas palavras que me prenderam quase instantaneamente, despojo inútil do inconstante vento.
É tudo isto que quero, isto e tudo o mais que não capturo em somas de letras que se juntam para formar palavras e sons e incoerências pálidas face à minha vontade. Mas é a fraqueza de ti que me faz forte. É a tua incongruência atroz que, ao ferir-me, me desprende as asas, e me faz olhar-te lá do alto. És nada, somos nada, fomos nada.

E o instante torna-se cada vez mais espesso. Tu, reduzes-te qual máquina, teu nome é máquina. Tu, prendes-te a nomes, a gestos. Eu, nada que sou, tudo trago em mim, e se tudo bebeste, devolve-me, vomita-nos, desfaz-te, não me importa como o fazes, mas faz-me rir. Faz-me acreditar que a vida é só um passo para longe de tudo o que sou.
Patético. E apenas ouço a tua dor do outro lado do espelho. Apenas adivinho que te encaracolas e não existes mais. Persistes apenas na luz, apenas aí. E é aí que te espero, enquanto abandono o meu corpo.




Isto é o que eu sou.
Trago tudo em mim, toda a morte e toda a vida, todos os corpos cabem em mim e eu moldo-me a todos eles. Nada me prende sem ti, e como não estás, prendo-me a todos os que restam. Mas nada me arrasta como tu. Então, voo, baixo, apenas para te esquecer num qualquer abraço que sinta que não é o teu.
Eras ...


Neste infinito fim que nos alcançou ...

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Resta o quê? É a pergunta que me assola quando o fim se cola ao espelho e só o vejo, perdendo sinal de mim.
Parece que flutuo enquanto os pés se enterram no chão e que peso o mundo enquanto voo sem rede. Parece tudo e nada é. Sinto tudo e nada é. Desfaço-me enquanto tudo sou. E penso que há esse fim que nada traz senão um vazio que ecooa em todo o seu ser. Cedo, avanço, recuo. Em mim tudo foi maior, agora, sem novidades, nada é.

Quase me sinto cair, e apenas sinto o frio do vento a rasgar-me a cara, a espalhar-se em mim, inundando-me de um frio que só tem por companhia a solidão, contrasenso tão puro como eu sou inconstante, assim é o vento. E fica. Enquanto alguém que queimou a entrada resolveu sair, se alguma vez tinha decidido entrar.
Ficou o frio, o tic-tac do tempo a perder-se no tempo e do tempo, e fiquei eu.
... guardo-me e resguardo-me.


Sobre mim

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  • De eu vim de outra esfera
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