Pedacinhos de estrelas: julho 2007

Nuvens, e céu, e mais nuvens

0 gotas de arco-íris Em 23 julho 2007 choveram pedacinhos de Green Tea.

O tempo parecia fosco, cansado de ser, de girar perpetuamente sobre si mesmo, na ânsia de ver nascer um dia distinto, que não terminasse nessa mesma noite infinita, a deslocar-se sobre a terra.
Trouxe a brisa do norte, enquanto chovia pura paz. Fugaz, mas doce. Trouxe a saudade de quando o tempo respirava o amanhã, antevendo gotas esmiuçadas de dias melhores dentro da ampulheta de vidro guardada no colo das nuvens.

Foi quando os vi. Pálidos e mortos. Riam como os mortos, andavam mortos, quase beijavam como mortos, comiam como os mortos. Cadáveres vivos, pendentes do tecido da paixão. Eram linhas soltas de alguém que tinha um dia ficado. Mas que partira, havia muito, muito tempo, para renascer num qualquer outro ventre. Bradavam "amo-te!", mas o amor tinha voado para longe. Exclamavam "quero-te!", mas nada queriam, pois nada amavam. Gritavam surdos, davam as mãos, eram só dois, e podiam ter-se amado até ao fim dos tempos, para renascerem eternamente todas as manhãs diferentes.

Eram pedaços de folha de papel, personagens escritas. Um dia rasgar-se-iam, fruto do tempo ou do fim da paixão de quem os traçou entre linhas imaginárias.
Só por isso não seriam eternos.

~ não adianta, vamos ser sempre nós ~

escrito com a saudade a escorrer-me dos dedos
e com a alma a soluçar-me por não saber
como matar esta saudade
calá-la de uma vez para sempre
cegar-me dos teus olhos
nos meus olhos
quero-te
amo-te
só

Volver

3 gotas de arco-íris Em 13 julho 2007 choveram pedacinhos de Green Tea.

Descasca-se lentamente, como uma saudade ansiada, um soluço preso na garganta que irrompe num brado furtivo, e deixa-se cair, amarga.

Retomam as cores, ouro distante, cheio de vários matizes, cheira a fruta fresca, e o som longínquo anuncia o regresso. Soem trombetas, venham todos, venham ver ... regressa a casa a menina perdida, ei-la que entra, percorre cada centímetro, cada pormenor da parede, cada recanto. E sorri.

Cheguei a casa. Valeu a pena a longa espera.

Não há melhor abraço que o que é sentido, aguardado, repetido. Não há maior alegria que a do regresso. Só quem partiu pôde voltar.

~ para as ostras ... ~

Memórias ...

0 gotas de arco-íris Em 07 julho 2007 choveram pedacinhos de Green Tea.

... de um tempo que ficou, preso aos fios amarelos que se entrelaçaram, e deixaram a ausência.
As órbitas vazias, marés que se tornam inesgotáveis, porque te amo, na dor de não te querer amar.

... das palavras ditas e reditas, e ditas novamente, sacras e sentidas. Que se tentam apagar, escritas a lápis no papel, mas cravadas de verdade no coração.
Os olhos doridos das palavras que rolam nas faces.

... de umas mãos que talvez fossem mais do que mãos. Fossem tudo. Mas não eram tuas.
Eram minhas. E só queriam as tuas.

Ainda vai doer mais. No mês das uvas, das castanhas, do outono quente, tu virás, de novo, perguntar-me o caminho, beijar-me as lágrimas. Não tu, mas a tua memória.

Amo-te.

Sexto Sentido

0 gotas de arco-íris Em 03 julho 2007 choveram pedacinhos de Green Tea.

Peso as folhas que caem sendo Verão. Ouço o suspiro que amanhã as espera. E pinto, cheia de convicção, a tela que me trouxeste um dia. Queria apenas explodir contigo, enraivecer-me só mais um pedaço, dizer-te ...

Trago o sol encostado ao ombro, escondido das nuvens e dos céus cinza. Descubro-te minimizado, ego maximizado, mãos que não se dão. E repito palavras que conheces: "O que é a verdade?". E tu, qual Pôncio Pilatos, remetes-te ao silêncio, mas àquele silêncio prenho de palavras que nada dizem, tudo escondem, quando eu já as li, já as vi, antes, ontem, outro dia.

Perco as pistas, julgo que não deixaste por aqui, porque nem tu sabes que tesouro escondeste. Não entra ar aqui? Onde já não tens ar?

Desfio as gotas de tempo, calculo friamente os dias num calendário só teu. Não existes, não fazes barulho quando cais.

Nem te vejo. Então, porque estás dentro de mim?