Dentro do tempo

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Sinto que o tempo pinga lentamente das torneiras de vozes que nada me dizem. Não entendo nenhum dos sons, nem me esforço, porque sei de cor o que matraqueam. Posso repeti-lo aqui, a qualquer hora, em qualquer lugar. Não me importa.
Só me preocupa o tempo a escorrer aos poucos em gotas grossas e a fazer um som estranho ao cair no chão que sou eu. Como se uma voz ao longe me incitasse a acordar. Mas acordar como? Sempre supus estar desperta ... Acordar parece-me um pouco paradoxal, mas sempre ouvi dizer que a voz que não se vê tem, regra geral, alguma razão.
Levanto-me enquanto me deixo estar sentada, e enquanto os meus olhos fitam atentamente o que todos vêem, deambulo pela sala, deixo o ar condicionado no frio demais, não vale a pena mudar, estou de saída. Estaremos sempre de passagem, não é?
Chego finalmente à rua. Ar puro, ou nem por isso. Mas aqui o tempo não escorre nem pinga, está acumulado em poças. Paragem do autocarro, não me apetece. Vou a pé, ainda tenho de voltar para a aula antes que acabe, não me posso esquecer.
Passeio, carris, automóveis indignamente estacionados, homens a cuspir no chão, arrumadores de automóveis indignamente estacionados, cães a passear crianças, crianças a passear adultos, eu a passear-me a mim ... e a tentar fugir das poças.
Cheguei ao rio. Esqueço a estação a abarrotar magotes de gente, deixo as pessoas como pano de fundo das músicas que integram a banda sonora das minhas noites claras, e estou só, à espera de saber afinal de que é suposto acordar. Está calor, e começo a maldizer a caminhada, doem-me os pés e agora que faço, para que vim? Não que me sentissem a falta, devo acrescentar ...
Do meio do rio, a voz ergue-se lentamente entre o roçar das ondas entre si. Não a vejo, ainda bem, é sinal que continua a ter razão. Sinto que me chama, mas para onde?
O calor na minha mão, percebo-o só agora, parece que queima, mas docemente. Abro a mão, curiosa, como sempre, e pronta para quase tudo. O quase encontrei-o apertado e a desenhar-me a fogo a mão. Incandescente, a minha estrela, a peça. Já a tinha esquecido, céus, pensava que a tinha deixado segura em casa, mas de onde veio?
Sinto as pernas dormentes, um formigueiro no peito, já sei onde tenho de ir. Desço as pedras outrora brancas que ladeiam o rio, olho para trás, ninguém, os magotes de gente não estavam destinados a estar aqui. Sem hesitar, não eu que hesito por tudo e por nada, mas a minha estrela em forma de peça de puzzle, avanço. Um pé. Outro a seguir. Assombro. Flutuo, flutuo, flutuo e flutuo, apetece-me gritar mas tenho receio de me afogar no entusiasmo. Não, medo não tenho, talvez temor e um imenso respeito. Sigo até à voz, e de repente ...
Está frio na sala, e o tempo pinga lentamente das torneiras de vozes. Olho o relógio no pulso, está quase ...


Com um brilhozinho nos olhos

3 gotas de arco-íris


Olho-me ao espelho pela manhã que já é tarde ...
Vejo-me e reconheço, os olhos castanhos com um brilho que a noite não apagou, pequenos, como as minhas mãos são pequenas. Mas não a alma!
Desenrolo o novelo de lã que encontrei no fundo da gaveta, vi pela primeira vez que é cor de rosa, cor de criança, cor da criança que os meus olhos denunciam mesmo quando tento guardá-la só para mim. Acontece, há momentos que vale a pena partilhar.
É um novelo infinito, descubro ainda sem lhe ver o fim, é o novelo dos tempos que estão para vir. Sorrio. Sento-me na nuvem de algodão com fiapos de doce de avelã. Lambuzo os dedos, não há que ter vergonha, as crianças são assim. Toco nas estrelas que sorriem à minha volta, estão quentes e o seu brilho faz cócegas no nariz, e rebolo de riso até doer a barriga de tanto rir.
Chegou a noite, a criança levanta as mãos, e no seu pensamento veloz, comanda a nuvem, é tempo de partir para outras viagens. A mãozita agarra qualquer coisa. É a minha mão, mas não percebo o que aperto com tanta força. Abro a mão e um sorriso imenso na alma, um ar de espanto no rosto.
É um pedaço da estrela que me fez cócegas. É uma peça de puzzle ...

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Os heróis lusos afirmaram que as laranjas mecânicas nada podem face à garra de um povo que está habituado ao suor e ao sacrifício.
Metaforicamente, decidi que a minha laranja mecânica vai para reparação numa qualquer oficina nocturna

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O arco íris não me faz medo
se no fundo houver um pote em segredo
que guarde a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores
Uma tempestade não me faz medo
Se no ar houver uma força em segredo
que anime a história dos homens
e guarde a história da vida
dos olhos dos predadores
O mar revolto não me faz medo
se a água não revela segredos
e benze a história dos homens
e lava a história da vida
dos olhos dos predadores
O vento norte não me faz medo
se a brisa sul disser em segredo
- Eu amo a história dos homens
e turvo a história da vida
nos olhos dos predadores
A lua nova não me faz medo
se lá viver um velho em segredo
que oculte a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores
A selva inteira não me faz medo
enquanto houver uma árvore em segredo
que aqueça a história dos homens
e feche a história da vida
à estrada dos predadores
Os elementos que gritem
e a matéria se revolte
e quem mais puder que ajude
a dar novo brilho ao sol
Luis Represas - Olhos


Supernova

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Em mim repouso ...
Adormeci com o peso da ausência no corpo, o frio a esburacar o lençol e o rosto sem expressão. O nada após a mortificação, finalmente capturei essas palavras, e gravei-as na almofada para me aconchegarem num sono que não dormi.
Sobrevivi ... roubo as palavras, perdi-lhes a pontuação, os compassos da melodia que tentei ouvir desencontraram-se e só restou ruído. Mas no ruído também existo.
Fico melhor assim. Guardo o enredo dos braços que não me abraçam. Admiro-me. Sou calma. Sou a noite a reflectir a luz de uma lua que não ousou. Amei o sol, mas são oito minutos luz que nunca transporíamos. O sol queima e sopro as minhas feridas, fecho-as com superpoderes que gostaria de não ter, e não tenho. Amo.
Vejo que os braços que não me abraçaram seriam pequenos demais para o meu mundo. E voo, agora sem medo das alturas que não ousava.
Em mim renasço ...
Nunca vejo um fim. Há o fim de ti, o fim de nós, mas nunca vejo esse fim. Eu sou o fim, e uma perene melancolia dorme comigo e aquece-me os pés enquanto me esfria o coração. Perdi-me nos fins que não deixei partir. E o brilho dos meus olhos, que reencontraram a paz fora do fim, guarda mil segredos que só os predadores da noite poderiam desvendar, se soubessem que estes olhos riem gargalhadas puras entre as areias da meia praia.
Respiro. Noite cúmplice, escuridão astuta, acaricia-me o rosto e lembra-me de mim. De quem sou, porque esqueci no dia em que atei as minhas asas ao sol.
Sorrio. Beijo o véu da lua, que esconde o desconhecido num manto de rostos que ainda não nasceram na minha história. E vou dormir. Leve, flutuo, e é a ausência que me eleva no ar frio a cheirar a mudança.
Em mim ...


Fim

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Uma chaga para lembrar que há um fim ...

Não me vêm outras palavras à mão, nem ao corpo, nem ao espírito.
Frio, faz muito frio aqui, e as tuas palavras são punhais de gelo que cravas despreocupadamente no meu peito.
É hoje, mato-te hoje, a sangue frio. Já decidi.
Hoje acaba, terminas em mim, sais de mim. Receio que a minha dor esteja a ganhar forma, a crescer e a tornar-se um furacão de sentimentos menos doces. O último segredo antes do ódio, antes da vingança escorrer em sangue vivo de mim.
Já me mataste tantas vezes que também mereço arranhar-te um pouco. Dar-te a provar um qualquer travo amargo, que não será o da solidão, não será nada que tenhas conhecido, porque hoje vi. Não me conheces.
Se me conhecesses ...
Saberias que é frágil a linha que desenhei a vara de negrilho entre o que amo e o que solto de mim, num suspiro moribundo, num parto renascido, numa soma de chagas que nunca te contei.
Saberias que memorizei cada segundo de ti na minha mão, na folha que nunca leste, e que cada segundo de ti foi um segundo mais longe de mim.
Porque é assim que sou. Feia. Má. Revoltada. Uma fúria por domar. Destruição. Um nada cheio de nada porque o tudo que tinha reconstruido se esvaiu em ti. E restou esse nada negro e gigante que se apodera de mim.
Foge. Um conselho de quem te amou.
Porque se cá voltares, nada restará.


...

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Prendi-te e atei-te nos meus fios até te sufocar. Roí-te as defesas, cortei-te os caminhos de fuga. Persisti, até te ouvir, até te arrancar essa verdade que escondeste debaixo dos meus olhos, que não vi, não li, não tirei das palavras que me escreveste o cruel sentido que nelas encerraste.
Deixei-te cair no chão, como um ramo que se quebra, fino e frágil, serias tão mais forte se fosses um feixe de ramos atados. Deixei-te sair pela porta dos fundos, deixei a tua morte em suspenso, fica para depois. Não foi hoje que te escorracei, te apedrejei com bolas de sabão, que matam quando não as sabemos decifrar. Fugiste apavorado, descalço e nu, pela palma das minhas mãos que tremiam.
Foram de veludo as minhas mãos, não deixaram marcas, por enquanto. Que ainda tas hei-de deixar, ainda te hei-de contar a história das noites em que me visitavas e desenhavas sorrisos no ar com o teu olhar. Ainda te vou mostrar as nódoas negras que deixaste em mim, pego na tua mão e enterro-a nas minhas chagas que hão-de fechar sem a tua ajuda.
Não me ouvirás, não me verás, porque nunca me ouviste nem viste, apenas me encontraste e amarrotaste. Fui um espelho, daqueles de aumentar e reflectir só coisas boas, daqueles que só existem nos contos em que quis acreditar. E partiste o espelho, com a mão trémula não de compaixão pelos reflexos que passámos, tremias porque um de nós o partiria. Não adiantava adiarmos mais a queda, vamos ser sempre nós, eu a querer voar, tu a quereres adormecer.
Morri quando não te matei. Já tinha definhado aos poucos, cada dia era um pouco menos de mim que encontrava no meu corpo, já me tinha evaporado em ti e perdido na tua respiração distante. Morri, ainda não percebi como, embaciada e toldada pela lentidão do que não me tinhas dado. Não ouço, não vejo, não sinto, não cheiro, não sou nada a não ser um corpo, mais um corpo neste amontoado ordenado. Mais um, menos um, por enquanto é-me indiferente.

Não saberás que morri, não saberás que te levo comigo, que morrerás também um pouco, que perderás alguma dessa tinta invisível com que pintas a tua alma, a tentar escondê-la de quem a quer conhecer. Vou-te descascar, deixar uma cicatriz que não sentirás. Não compreenderás como a vida tem caminhos sinuosos. Serás apenas uma palavra, um não, sangrado e esvaído. E os teus risos não me doerão mais, os teus olhos não me arrancarão lágrimas dos meus olhos, o teu sorriso ser-me-á indiferente.
Será num futuro que não sonhámos. Eu porque que te queria. Tu porque te querias também. E nenhum de nós te tem verdadeiramente.
Não te esqueço ... mas esquecerei que te amo, e aí voltarei a ouvir chuva a narrar na sua voz de mãe os contos em que agora não consigo acreditar. Da chuva só ouço os uivos dos ventos adversos.



~ agradeço a imagem "tirada" daqui ~


Ora vamos lá

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... exorcizar demónios que (não acreditando em coincidências) acabam de passar por aqui a correr ...

Repeti para mim mesma o que digo incessantemente a quem me ouve: a última coisa que podemos perder é a nossa dignidade, é ela o reduto que nos faz continuar, é ela quem nos faz suportarmos o rosto que surge todas as manhãs no espelho.

Ora bem! Ora mal, mas é, que isto não é fácil de executar. E penso para mim que isto devia era ser um diálogo, mas o meu interlocutor está demasiado ocupado e entretido para me ouvir, e repenso então que mais vale isto do que coisa nenhuma.
É meia noite de um dia que foi uma eterna noite para mim (reparem como as palavras custam a sair daqui de dentro, como me troco e baralho neste monólogo imaginadamente a dois).
A minha dignidade exige-me, no entanto, que prossiga até exorcizar este rebelde ser que resolveu minar os meus pensamentos luminosos. Sigamos então.

Eis o que me dói e me asfixia: o jogo viciado do qual nunca sairei vencedora. E para sair vencedora o meu par não teria de perder, havia hipótese de dupla vitória, que eu não sou má pessoa e às vezes (como agora) consigo entrever a simplicidade das coisas puras e verdadeiras.
Portanto, não é a incerteza do rumo nem a angústia da derrota que poderia resultar de um jogo limpo, justo, honesto, seja lá isso o que for nos dias que correm. Não é o desgosto, não é a ausência. Agora percebo isso, agora (lamento não ter percebido anteriormente, e agora esboço um sorriso solidário, é cego e surdo o amor).

É um paradoxo meio estranho. Tanto me apetece tirar a laranja mecânica do armário onde a escondi, e deixá-la actuar livremente, como pedir à laranjinha um último esforço crente, quiçá ingénuo, mas doce.
A laranja mecânica. Exploremos esta faceta ... ela é fria, implacavelmente desprovida de senso comum, racionalmente pronta a explodir veementemente. Isto se as lágrimas não a implodirem primeiro. É a minha máquina de guerra particular. Magoa, vinga, crucifica, esventra. Não que isso lhe traga nada de bom, obviamente, apenas o sentimento de ter descarregado uma torrente de sapos mal digeridos.
A laranjinha. Gostava de a conhecer melhor ... gostava também que alguém a conhecesse de verdade. É uma coisita frágil a deambular pelo universo à procura de encontrar o seu lugar. É a minha conselheira pacífica, e por ser rouca a sua voz, é o seu silêncio que mais me toca.
E agora? Doces beijos ou silêncio áspero. Há um lado de mim que não suporta ser objecto para egos narcísicos insatisfeitos e inconstantes. Há, porém, outro lado irresistivelmente atraído pela insegurança mal disfarçada.
Não tenho respostas. Tenho medo.

~ Não adianta, vamos ser sempre nós ~


Pensar que

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... ontem, sem que o soubesses, adormeci abraçada a ti. No teu quente, a pensar que éramos feitos da mesma carne e da mesma luz.

Pensar que pensei de mais, mais uma estúpida vez. Escrevo com as mãos da revolta e da ingenuidade a sugarem-me a alma, que se esvai para o teclado.
Tremo, porque tremo? Porque me apavora a ideia? Porque me rói a certeza lida?
Pensar que adormeci no teu peito para acordar na rua, escorraçada sem o saber ... como um cão. Como um cão.
E ler a traição não nos teus olhos ou nas tuas palavras, mas na tua bandeira, no teu estandarte de engate. Que fugisses, que te zangasses, que berrasses, que explodisses. Tudo, tudo tinha sido melhor que isto.
Continuo a tremer ... tanta coisa para te dizer, para te berrar, cuspir na cara as palavras mastigadas que nada resolvem ... quem? porquê? como?
Para quê? Não vou gostar de ouvir, seria masoquismo querer saber, mas dói, credo, amor, como dói.
Agora quando olhares para trás, quando por mim passares, meu amor, meu estúpido amor ingénuo e cobarde, quando de mim vires o vulto sem corpo nem alma, não te admires, não me digas nem perguntes porque não te sorri, porque não te acenei.
Nunca fui ... nunca fui, nunca fui um futuro brilhante para nós.
Como um cão ...
EDIT: entre a ficção e a falta de razão, apercebi-me da violência inusitada deste texto, e não me reconheço nele. Não me quero reconhecer nele. Mas fui eu quem o escrevi, e portanto é meu e não lhe retiro uma vírgula, um ponto, um insulto.
Confesso que neste momento não compreendo nada ...


Paralelo

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Este é o post 100 ... Sem ...
Tenho sentido as minhas palavras distantes de mim, flectidas sob a dor de um jugo que não quis carregar ... como se as palavras estivessem sem mim e eu sem elas. E perante um número redondo, quis não desiludir-me novamente na escrita em que me refugio não sei bem de quê, e agora nem de quem. Decidi voltar as páginas, mas sem pressa de chegar, porque a pressa é uma assassina nata e cruel, resolvi-me a abrir o livro numa página não marcada e esperar para ver ... o tempo é capaz de muito, mas eu também. Curioso, um sorriso aflorou-se-me nos lábios.
Tenho estado em paralelo com mundos que não conheço ou reconheço em mim. Existo no espaço de um vidro duplo sem me encontrar, de tão pequena e fugaz que me soa a minha respiração.
A minha mão é pequena demais para empurrar o vidro, a minha voz demasiado fraca para pedir auxílio, mas as minhas asas, essas, fortalecem-se a cada dia no sorriso entre olhares sem comprometimento.
E nestes paralelos encontro-me no meio do que sou e não sou, sou uma intersecção desenhada a pastel por muitas mãos invisíveis, cujos rostos posso apenas entrever ou sonhar. Mãos doces, companheiras, que se cruzam, atam e soltam, que me impelem a navegar, quando as asas que me deram estiverem roídas de cansaço e doridas de orgulho mal doseado.
Sinto-me pequenina e muito grande, possante como uma máquina de guerra pronta para agir. Criança velha e cansada de contar histórias. Árvore seca e rebento que persiste em despir a casca envelhecida. Sinto tudo ao mesmo tempo, sou muito e tanto ao mesmo tempo, ainda que não entenda ou compreenda esse caminho que não me lembro de ter escolhido, ou sequer encontrado no mapa que a vida não fornece.
Há mãos especiais, que me pintam as asas e o barco, tatuam flores e palavras em línguas estranhas e apaixonadas, que me lançam no fogo rasante da aventura que me assusta. Há palavras que soam a eco rouco, outras que mal escuto. São essas mãos e essas palavras que agora escolho. As que não conheço. As que pertencem aos sorrisos que anseio por descobrir, às vidas que agora se cruzam em mim, que abrem uma janela, uma porta, um buraco de fechadura por onde posso passar.
Percebi, finalmente, o segredo do luar, que só faz sentido quando lembrado, sentido, saboreado, quando já se sentiu o doce abraço do sol. Rasguei, por fim, as fitas cor de nada que me atavam as asas em que nunca acreditei. Sorri e medi o poder do meu sorriso, das minhas tranças e do meu olhar. E amei o nome que me saiu dos lábios sem o ter chamado.
Repito-o agora, para mim, para me lembrar que as palavras podem, em verdade imutável e implacável, ser doces e amargas, e repito-as até à exaustão, para as aceitar como são.
Sei-o agora, é nesse paralelo que tem tanto de abismo como de nuvem de algodão que me visito. É no paradoxo do desconhecido que aceito que estendo a mão e agarro o que houver para vir.
E mantenho a mesa posta, porque hei-de cá voltar ...


Há luz lá fora

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Espreguiço-me lentamente ...
É a meio da tarde que o dia mais me pesa, e a noite vem lavar-me da minha condição.

O pintor escolheu tons de azuis e alaranjados fortes para me brindar, fez do céu a sua tela e brincou às caricaturas. Sentei-me no chão a apreciar a sua destreza simples e surreal. Comovo-me perante a sua arte, e reduzo-me ao papel de espectadora, deixo-me ir na sua magia, corro o risco de me perder, ou talvez de me encontrar.

O meu olhar vago protege-me, flutuo nas sombras que crescem a cada instante, e envolvo-me na noite e nas estrelas, cheguei a casa.

Há muita confusão em mim neste momento, muitas pessoas a traçarem rumos paralelos e convergentes ao meu, muitas palavras que se dizem sem se medirem e se saborearem como deveriam, há muita cinza ainda. Estranhamente, sinto-me bem, seja lá isso o que for. Agora sim.

O meu caos é quente. É imenso e vasto, cheira a rua e a fumo. Deforma-se a cada segundo, e perde-se em si. Lágrimas cheias de sal não lavam o nosso mal, e lambo as minhas feridas. Agiganto-me perante a ténue e fugidia linha entre o amor e o ódio, porque os sentimentos nunca são neutros, nunca são pacíficos, mas são doces. Recuo uma lágrima que teima e persiste em me contradizer, mas não a solto, ela que morra dentro de mim, porque há luz lá fora.
E eu quero que haja luz em mim ...


Até me ouvir

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Olho para mim. E agora que os meus cabelos lutam novamente com o vento, agora que roçam a minha companhia, agora que me seguram a mão, vejo como é bom o calor das mãos. Essas mãos, perfeitas, fortes e graciosas, que só têm um defeito. Não são tuas.

Preciso de me lembrar sempre. Sentir na pele a vergastada da tua ausência indiferente. Lembrar que o ar não é teu.
Preciso de me lembrar sempre disso. Necessito de chicotear asperamente cada réstia de esperança que me brilhe nos olhos cada vez que o teu nome surge desenhado no céu, nas nuvens, no meu peito. Esse brilho tem de morrer, e mato-o eu depois de o teres enterrado.
Digo, escrevo, sussurro, grito aos ventos e ao sol, se necessário for. Até me ouvir. Até acreditar no que digo. Até as minhas mãos serem minhas e por mim chamarem. Até a minha voz se perder na cidade que uiva. Até o meu grito ser eco de si e se tornar verdadeiro. Até ao fim.
Olho para mim. Lembro-me. E pego na cadeira e domo a esperança azul que tenta renascer. Até ao fim. Porque o fim sou eu.


Em mim tudo é maior

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Estou seca de palavras, aquelas que me encantam.
Refaço lentamente o meu castelo de cartas, mas desta vez sem ajudas, sem companhia, sem sorrisos ou músicas como pano de fundo.
É este o meu espaço, e esta sou eu.
Neste momento sou cinza velha. Acredito que serei fénix e voarei alto, renascida e fortalecida pelas cinzas que me consumiram amargamente.
Preciso de tempo para me habituar à escuridão, e então verei tudo mais claro. Até lá ...


Sobre mim

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  • De eu vim de outra esfera
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