Em mim repouso ...
Adormeci com o peso da ausência no corpo, o frio a esburacar o lençol e o rosto sem expressão. O nada após a mortificação, finalmente capturei essas palavras, e gravei-as na almofada para me aconchegarem num sono que não dormi.
Sobrevivi ... roubo as palavras, perdi-lhes a pontuação, os compassos da melodia que tentei ouvir desencontraram-se e só restou ruído. Mas no ruído também existo.
Fico melhor assim. Guardo o enredo dos braços que não me abraçam. Admiro-me. Sou calma. Sou a noite a reflectir a luz de uma lua que não ousou. Amei o sol, mas são oito minutos luz que nunca transporíamos. O sol queima e sopro as minhas feridas, fecho-as com superpoderes que gostaria de não ter, e não tenho. Amo.
Vejo que os braços que não me abraçaram seriam pequenos demais para o meu mundo. E voo, agora sem medo das alturas que não ousava.
Em mim renasço ...
Nunca vejo um fim. Há o fim de ti, o fim de nós, mas nunca vejo esse fim. Eu sou o fim, e uma perene melancolia dorme comigo e aquece-me os pés enquanto me esfria o coração. Perdi-me nos fins que não deixei partir. E o brilho dos meus olhos, que reencontraram a paz fora do fim, guarda mil segredos que só os predadores da noite poderiam desvendar, se soubessem que estes olhos riem gargalhadas puras entre as areias da meia praia.
Respiro. Noite cúmplice, escuridão astuta, acaricia-me o rosto e lembra-me de mim. De quem sou, porque esqueci no dia em que atei as minhas asas ao sol.
Sorrio. Beijo o véu da lua, que esconde o desconhecido num manto de rostos que ainda não nasceram na minha história. E vou dormir. Leve, flutuo, e é a ausência que me eleva no ar frio a cheirar a mudança.
Em mim ...
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