Plumas, são plumas coloridas. Amargas e doces, metálicas e duras. Envolvem-me em retalhos,que agora vejo que são restos de mim, do que fui ainda sem sabê-lo.
Estão em mim, são e renascem perpetuamente no meu ouvido.
Tento decifrá-las, esquadrinhá-las, sorver as entrelinhas ruidosamente. Piso a calçada, ou melhor, flutuo e danço nela, abro os braços, abraço o mundo, e nesse abraço de luz cabemos os dois.
E nesse abraço que não damos porque não somos mais que meros corpos infinitamente separados, as palavras ecoam e repetem-se até à exaustão que não chega. Defendem-se numa melodia que bebo e circula em mim, que me cega os olhos, me mata aos poucos nesta dança doce e cruel. Arrepia-me ouvir o que não me dizes, o que não te digo, o que os outros tentam dizer por nós. E flutuo colada ao chão onde me desequilibro.
Estou cega. Sou cega. Não preciso de te ver para te sentir em mim. Conheço-te de cor, cada palmo de pele, cada olhar fugaz e intangível, cada riso perdido. Sei-te sem te saber.
Cada voo que dás, é a mim que levas sem te aperceber. Cada manhã traz-me os teus olhos que não me vêem, as tuas mãos que não me tocam, os teus braços que não me seguram. Cada riso teu, sei-o de cor, na simplicidade que me tentas passar.
Tenho medo. Frio, ácido e penetrante, enquanto me descalço para me sentar no chão de nada a olhar o céu que não ousámos.
Ainda estás aqui? Não te vejo, estou cega, mas sei-te de cor, como nunca te soubeste, como nunca nos conheceste.
Não te quero puro e pálido e perfeito. Quero-te sujo, cansado, suado, revoltado, quero-te assim, quero-te verdadeiro.
Aiii.....
olha... estas palavras tão completamente simplesmente fantasticas!
Amei este texto... tá tão.. tudo! Verdadeiro...
beijo ***