Era suposto fazer um balanço da maratona de escrita. E depois fiquei sem escrever... Parece justo fazer o balanço de ambas as fases.
Escrita
Doem-me os dedos de escrever, os olhos de ler, e os lábios de os morder para conter as palavras. Desfiz-me dos pudores e dos tecidos que envolviam o casulo onde me escondo. Estranha necessidade de te cantar em palavras, de abraçar o vazio que aqui ficou. Só. E a dor que deixas.
Pausa
Porque às vezes não vale a pena esvair-me. Custa demais e parece que preferimos os dois deixar de pensar. Paremos de todo. Sejamos nada, mas de verdade. Esqueçamos que existimos um dia. Esqueçamos que já fomos um tudo, lembremos, recordemos apenas o presente efémero que somos.
Então
Roo-me quando escrevo, traio-me quando não escrevo. Escavo-me nas palavras, perco-me nas ausências. Prefiro a dor da escrita à dor da traição de não o ser. E no fim? Amo ainda, perco ainda e sempre.
[a ouvir Supernada, À Tua Procura ... irreal, não?]
Estico os braços. Até parece que as distâncias se encurtam. Os papéis têm dupla face, e o que vejo, tudo o que vejo, tem um reverso. Intangível e incompreensível. Somos um puzzle, cada lado deste papel. Escrevemos a história de alguém que nos amachucou, fez-nos folhas, e depois tentou tirar-nos as rugas. Desenruguemo-nos, olhemos a luz. Sorris? Eu também... Fomos reversos, seremos uma história diferente. Sempre. Confiar é uma palavra dura, triste, forte, difícil. Mas que se torna verdade quando existes aqui.
Somos, fomos, seremos. Também amo. Sei que sim, há vícios, miseráveis, como todos os vícios, que são o reverso das virtudes.
E no fim, o que resta? Isto:
i wanna tell you that i love you
but does it really matter?
i just can't stand to see you dragging down again
again, again...
so i'm singing and this is
my kinda love
it's the kind that moves on
it's the kind that leaves you alone
Pearl Jam
Crown of Thorns
(para duas pessoas especiais,
uma com quem partilho a lua
a outra com quem partilhei o vento)