Despir

2 gotas de arco-íris

A auto-estima.
A alma.
O silêncio.
A dor.
A secura.
O beijo.
O tempo.
O medo.

Está frio. Vai ficar ainda mais.


E basta-me ...

2 gotas de arco-íris

... esse aceno de cabeça, mudo em palavras mas cheio de possibilidades, para tudo se alterar na esfera gravitacional de que escorrem incessantes os meus pêndulos emocionais.

É assim que também tu me cativas, nessa esperança quase vã de me aninhar em ti, nesse tudo que te dou no meu aceno espelho do teu. Esse quase, tanto que tem dentro. Tanto amor, meu amor. Cego, como quase todo o amor é. Cega sim, que tento ler nesse teu olhar fugaz mas certeiro as raízes dessa espera. Espera, esperança, eu espero.
Só isso me basta para rasgar um sorriso e saber que voltaria a voar em redor da luz até me queimar. Esse calor que vem subindo ao meu peito e te traz na noite onde te encontrei, te encontro, e nos fugimos.

Veneno, meu amor, és um veneno. Forte, inebriante, quase de plástico de cores surreais e plasticina onde moldo figuras de nós, a derreter-se em bolhas de sabão. A fazer sonhos e castelos de cartas. A trazer o cheiro quente do chocolate.

É ... basta-me apenas isso para saber que te amo.


E agora que me sinto violenta

1 gotas de arco-íris

Apetece-me esmagar-te essas asinhas cintilantes que me irritam na falsidade de uma alegria que não tens. Mas talvez desfazer-te só a asa esquerda, a direita arranco-a à dentada, talvez te morda também o tronco e te esfiampe os músculos, os puxe lentamente enquanto agonizas e te esvais numa hemorragia de merda.
E se uivares em socorros e gemidos de incompreensão, talvez ainda te empurre contra uma parede de brasas incandescentes, talvez te queime com um atiçador, nessa tua cara que não sabe ser mais do que a máscara inerte de quem não tem rosto.
Aliás, tudo o que tens é de brincar, nem chega a ser vivo. Aliás, lembro-me que te matei. O que fazes ainda aqui?
Apetece-me também e cada vez mais que o teu nariz escorra todas as ausências e insuficiências em forma de mucos e viscosidades. Sangue não.
Não tens sangue. Não tens nada a não ser terra, corpo vil, e um sorriso. E umas asas. Perfeitas. Feitas de mim. Devolve-mas.


Notícias do fundo (de mim)

2 gotas de arco-íris

Quebro. Quebro-me. Quebro-me e estilhaço-me. Quebro-me e estilhaço-me, padecendo a teus pés. Em surdina. Amarrotada e deitada fora. Sou uma folha de papel grossa pingada da chuva.
Dei sim, eu já dei ... eu dei esses passos que nos separavam, estiquei a mão trémula e quase te senti. Quase te senti a fugir e voltar o rosto. Fugaz o relance, bem sei. Eu sei. Sou uma página que marcaste e dobraste, onde hás-de voltar. Ao livro das histórias intermináveis. Cheias de nós.
Somos túmulos, sabes? Mudos e eternos. Frios e angulosos. Assombrados talvez. Sei que me espreitas, sabes que te olho. E não falei contigo porque as palavras quase me atraiçoam, as palavras custam a sair. E saem assim secas, apenas uma bandeira branca. Já chega. Tudo teve um fim, eu estou cá! E vou estar. Agora. Amanhã. Como tu. Dei. Escorri as minhas palavras, sequei-me no calor da tua mão, e aproximei o mais que pude sem ferver os olhos. Queimei-me mesmo assim, mas valeu a pena ainda que o teu silêncio persista.
Dá-me a tua mão. Ou um sorriso. Ou um olhar. Uma palavra? Um sopro de ti, só para morrer mais um pouco. E assim vivo mais, renasço noutras palavras. Porque olhe e siga eu qualquer caminho, só valerá a pena se te encontrar lá.


Ainda cá estou

2 gotas de arco-íris

Basicamente para me dar notícias de mim ... estou viva !!
Ausente, mas não morta, não quebrada ou mortiça como vela ao mofo.
Apenas ocupada, e sabe bem!
Apetece-me agradecer esta corrente de vida e mudança. Obrigada.


15.10


Há momentos demasiado crus para que consigamos apagá-los do quadro negro que somos. E as datas marcam-se com um círculo vermelho no calendário, para se não esquecerem. Como se fosse possível...
Hoje, dia quinze de outubro, sou apenas uma peça pálida de mim. Deixo o meu reflexo neste post.
Terça-feira, 15 de Outubro de 1996. São oito da manhã e já está um dia fosco. Estou sentada no páteo da escola, à espera das aulas, físico-química, se me lembro bem. Pavilhão 4. Trocamos piadas que a Vanda não percebeu (que será feito dela, aliás?). Combinamos no bar no intervalo das 10h, como de costume. Como de costume, porque nesse ano as turmas se tinham baralhado, ficámos as três separadas, havia que combinar as coisas com antecedência.
Esqueci-me. Estúpida, esqueci-me, nem me recordo porquê. Só retive a estupidez do meu esquecimento. Apareces tu mesmo em cima do toque, a refilar, e isto e aquilo e aqueloutro. Lembro-me que estava maldisposta nessa terça feira, e sei que despachei a conversa com um "amanhã vou ter contigo ao pavilhão 6, pronto, até amanhã", porque vejo mentalmente o meu horário, eu saía às 13h e fugia para casa, tu ficavas ate às 17h.
Tu ficaste. Eu fui para casa.
E depois tudo aconteceu com uma velocidade que não consigo perceber. Um telefonema. Seco.
Saíste às 17h, como de costume. Pronta para ires para casa, como eu tinha ido. Como deverias ter ido. Mas a avenida ainda tinha o pavimento empedrado e falso. Mas sempre há alguém com demasiada pressa de chegar. Mas o autocarro chegou na pior altura para te fazer correr. Mas sempre atravessámos aquela avenida com a força do hábito a salvar-nos da inconsciència. Até ao dia ...
Nunca percebi como a ambulância demorou meia hora a chegar, com o hospital ali ao lado. Nunca percebi como o Nuno passou por ti de mota e não te reconheceu estendida no chão. Só a descrição dele me agoniou. Uma saca de batatas, tal foi a dureza do impacto, disse-me ele, quando cá chegou antes ainda do telefonema. Uma saca de batatas esvaziada, que eras tu.
Durante algumas horas só soubemos que estavas internada. Mães e pais e irmãos a tentarem acalmar-nos. Mas não. O som do telefone. Outra vez com má sorte a tresandar no ar.
Foi a Inês (que seguiu também o meu curso, não sei se chegaste a saber) quem ligou. Eu liguei duas vezes por engano para a nossa amiga agora escalabitana. Coitado do pai dela, que nem sabia o que me (nos) dizer.
E no dia seguinte só me lembrava do até amanhã no intervalo grande. E um vazio. Uma dor que se chama incompreensão. Rodeei-me dos que ficaram. E de ti.
Não é quando se tem quinze anos que se percebe a imprevisibilidade da morte. Nem a sua justiça. Não é nunca. Aceita-se a ferroada da morte como sinal de que estamos vivos. E hoje, olho para o que sou. E revejo o que era nessa altura. Mudei, cresci, amei, chorei, magoei, fui magoada, ri, parei, vivi. Ainda não entendo o ter-te sido negada a ordem natural das coisas. Mas aceito. E recordo.
***
Do fundo da minha caixinha dorida e bem fechada, o meu coração sussurra-te o meu desejo, parabéns, e por dentro abraço-te tanto que quase entras dentro da minha tristeza. Queria tanto poder ficar, queria tanto poder sorrir só porque tu sorris.
Sabes que me vou lembrar. Que vou contar as estrelas que brilham no teu céu, esta noite, esta madrugada tua cheia de força e futuro. Porque o céu que vês é também meu. São apenas uns passinhos de distância. Que não damos.
Ficam aqui, sempre aqui, as minhas palavras só para ti. Baixinho, pode ser que as ouças se eu me concentrar com muita força. Parabéns.
E fecho-me, por hoje. Não trajarei de preto nem rolará sal das minhas faces. Mas estarei morta por dentro. Só para mim. E é por isso que este post não terá comentários. É o meu negro, e para não chorar terão de aqui ficar as minhas palavras. Só minhas.


Pele

3 gotas de arco-íris

Persisto, insisto, e dissolvo-me ...
É fria e dura esta muralha onde me encerro. Fria, feita de gelo morto e dormente. Nu. Arranca-me a pele e esfola-me o ser que não resiste. Olho e tudo o que vejo é um infindável gelo de morte seca. Enrolo-me e fico em carne viva desfigurada. Esbato-me e morro sempre atirada contra a parede fria, tão fria que não a sinto já. Insisto, quase te ouço rir do outro lado do cubo.

Derreto, congelo, mudo, morro. Para nada. Estás opaco desse lado. És tu, sim, mas não destróis o gelo com o teu calor. Apenas sorris. Longe, de longe, quase te sinto colado à água dura. E só vejo azul, estou cansada de ver ... gelo, água, as nuvens densas do meu respirar. Não respiro já. Estou dormente. Por dentro e por fora. O meu sangue é apenas duro e morto. A minha pele está azul e quase morta, caída no chão onde me enrolei para me despir de ti. Tu olhas. De fora. Translúcido e azul. Quase que ris. Quase que sabes.

Pegas no cubo, fitas, miras e desprezas. E deitas-me para um copo. Onde morro afogada. Asfixiada na tua ausência. Não vês o copo ensanguentado?


Todos menos esse (esse não)

1 gotas de arco-íris



E roçar ao de leve a plenitude de ser tudo e nada ser, todos abraçar e nada restar de mim.
Engrenar em frases e construções, apenas isso, ao som de Nuno Prata e Nicolas Tricot, que pela imensidão que me deram merecem aqui o nome.

E tu ... Cada vez mais uma pálida nuvem prestes a desvanecer, a chover de mim para fora do meu céu. Esse não, todos menos esse. Tu não. E é bom e doce e parece que o ar carrega outro cheiro e outros sons. E não vejo fumo de ausência, apenas o cheiro sereno da terra molhada e erva acabada de cortar que me dão paz. Fora de ti. Tu não!

Grandes momentos são assim. Passados com quem queremos bem, de tarde, de noite, no rodopio das horas. E dão que pensar. Mais, recarregam as baterias do sorriso.


Extemporâneo

2 gotas de arco-íris

Se parar para pensar sou sugada para um quadro que não quis pintar.
Se tentar entender o que sou, não me compreendo. Sempre a mesma vida encalhada nesse sempre. Há traços de outras pessoas, são esboços que apenas adjectivo de engraçados, certas coisas nunca vão mudar, como a luz que me escapa quando me falta um sorriso. Teu.
Se olho para o meu reflexo na água, só encontro esses esboços do que eu poderia ter sido, mas optei por não ser. Ou enganei-me. Será que esqueci do que é estender a mão para alguém que não fosses tu?
Eu já não sei o que é sentir ... Ou sei e esqueci, ou sei e quis esquecer, ou senti sem saber, e volto ao pântano das indefinições de um nós onde não cabes somente tu, mas todos os meus trajectos possíveis e não prováveis.
Cair e erguer. Sempre. Mais um vez. Cair. Para levantar. Uma outra vez. Apoiada na falta que me fizeste. E na mão que sonhei que me tinhas estendido. Tu. Ou quem mais? Era tão mais fácil quando eu estava lá. Mas nunca lá estive, apenas numa imensa queda que julguei ser voo.
Cair. Continuar a cair. Sempre. Para ti? Não, para longe de ti? Eras tu o meu chão ...
Até quando mesmo?
Quase me esqueço que também tu não estás cá ...


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