15.10


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Remember me (?)



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Há momentos demasiado crus para que consigamos apagá-los do quadro negro que somos. E as datas marcam-se com um círculo vermelho no calendário, para se não esquecerem. Como se fosse possível...
Hoje, dia quinze de outubro, sou apenas uma peça pálida de mim. Deixo o meu reflexo neste post.
Terça-feira, 15 de Outubro de 1996. São oito da manhã e já está um dia fosco. Estou sentada no páteo da escola, à espera das aulas, físico-química, se me lembro bem. Pavilhão 4. Trocamos piadas que a Vanda não percebeu (que será feito dela, aliás?). Combinamos no bar no intervalo das 10h, como de costume. Como de costume, porque nesse ano as turmas se tinham baralhado, ficámos as três separadas, havia que combinar as coisas com antecedência.
Esqueci-me. Estúpida, esqueci-me, nem me recordo porquê. Só retive a estupidez do meu esquecimento. Apareces tu mesmo em cima do toque, a refilar, e isto e aquilo e aqueloutro. Lembro-me que estava maldisposta nessa terça feira, e sei que despachei a conversa com um "amanhã vou ter contigo ao pavilhão 6, pronto, até amanhã", porque vejo mentalmente o meu horário, eu saía às 13h e fugia para casa, tu ficavas ate às 17h.
Tu ficaste. Eu fui para casa.
E depois tudo aconteceu com uma velocidade que não consigo perceber. Um telefonema. Seco.
Saíste às 17h, como de costume. Pronta para ires para casa, como eu tinha ido. Como deverias ter ido. Mas a avenida ainda tinha o pavimento empedrado e falso. Mas sempre há alguém com demasiada pressa de chegar. Mas o autocarro chegou na pior altura para te fazer correr. Mas sempre atravessámos aquela avenida com a força do hábito a salvar-nos da inconsciència. Até ao dia ...
Nunca percebi como a ambulância demorou meia hora a chegar, com o hospital ali ao lado. Nunca percebi como o Nuno passou por ti de mota e não te reconheceu estendida no chão. Só a descrição dele me agoniou. Uma saca de batatas, tal foi a dureza do impacto, disse-me ele, quando cá chegou antes ainda do telefonema. Uma saca de batatas esvaziada, que eras tu.
Durante algumas horas só soubemos que estavas internada. Mães e pais e irmãos a tentarem acalmar-nos. Mas não. O som do telefone. Outra vez com má sorte a tresandar no ar.
Foi a Inês (que seguiu também o meu curso, não sei se chegaste a saber) quem ligou. Eu liguei duas vezes por engano para a nossa amiga agora escalabitana. Coitado do pai dela, que nem sabia o que me (nos) dizer.
E no dia seguinte só me lembrava do até amanhã no intervalo grande. E um vazio. Uma dor que se chama incompreensão. Rodeei-me dos que ficaram. E de ti.
Não é quando se tem quinze anos que se percebe a imprevisibilidade da morte. Nem a sua justiça. Não é nunca. Aceita-se a ferroada da morte como sinal de que estamos vivos. E hoje, olho para o que sou. E revejo o que era nessa altura. Mudei, cresci, amei, chorei, magoei, fui magoada, ri, parei, vivi. Ainda não entendo o ter-te sido negada a ordem natural das coisas. Mas aceito. E recordo.
***
Do fundo da minha caixinha dorida e bem fechada, o meu coração sussurra-te o meu desejo, parabéns, e por dentro abraço-te tanto que quase entras dentro da minha tristeza. Queria tanto poder ficar, queria tanto poder sorrir só porque tu sorris.
Sabes que me vou lembrar. Que vou contar as estrelas que brilham no teu céu, esta noite, esta madrugada tua cheia de força e futuro. Porque o céu que vês é também meu. São apenas uns passinhos de distância. Que não damos.
Ficam aqui, sempre aqui, as minhas palavras só para ti. Baixinho, pode ser que as ouças se eu me concentrar com muita força. Parabéns.
E fecho-me, por hoje. Não trajarei de preto nem rolará sal das minhas faces. Mas estarei morta por dentro. Só para mim. E é por isso que este post não terá comentários. É o meu negro, e para não chorar terão de aqui ficar as minhas palavras. Só minhas.


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