A marioneta dos olhos tristes


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Fecharam as luzes. Fim do espectáculo, fim do dia.
E é no escuro, no aveludado escuro que ela repousa enfim. A menina dos olhos tristes e cansados perdeu hoje a sua companhia. Uma boneca de madeira que a acompanhou nestas andanças de ser e fingir que se é. A sua alegria doce e o seu sorriso de criança vão atravessar o oceano e correr ao ar livre e quente de um outro continente.


No caminho de casa, sempre no caminho de casa, dispo-me da vergonha de chorar. Ouço a minha voz a repetir dormente as palavras que nunca disse. E uma saudade de ti, um caminho rumo ao vazio, junto à inércia em que me esgoto.

A marioneta dos olhos tristes está inerte. Um vento frio dança à sua volta, assobiando a plenos pulmões a solidão da madeira que apodrece só. As outras marionetas voltam as suas costas de madeira, e os seus braços de madeira cruzam-se no gesto exclusivo de quem não quer saber.
O frio dói-lhe. O choro que não sai dos seus olhos soluça dentro de si, aperta-a, sufoca-a, asfixia. Os fios de seda que a atam a si queimam, ardem, não em brasa salvífica, mas em dor e desumanidade.


Para quê, ainda me pergunto. Do nada vem a tua imagem, e uma fraqueza imensa de enfrentar a luz irrompe do silêncio tamborilado no vidro do autocarro. Lágrimas e chuva, só isso. Uma estrada deserta repleta de gente, onde não me perco porque não tenho para onde ir, o caminho não é por aqui, sei-o bem, mas é o fétido e putrefacto hábito de regressar ao que não tenho e não sou.

Abafada, a marioneta dos olhos tristes gela. A estrela da companhia, fingindo fingir os papéis que lhe dão, a princesa, a salvadora, a companheira, a amiga, a boa fada, a garota feita mulher. E na luz da ribalta, nessa luz cega que cega, esvai-se de si.
Mas a miragem de ser nunca se cumpriu. O querer soltar-se destes fios brilhantes e doces, traiçoeiros, o voar acima da tenda que a prende e impede de ver as estrelas que aponta nos seus sonhos, essa é uma realidade que as suas mãos de madeira, os seus pés de madeira ligados às suas pernas de madeira, os seus trapos que cobrem pudicamente uma madeira sem sentido, nunca experimentarão.
Apodrecerá. Os fios e trapos, a madeira, toda ela aprodecerá.
Só os olhos, e essas lágrimas que fazem brilhar esses olhos castanhos, lhe dão a réstia de humanidade que nunca terá. Nunca, e o nunca é tão grande e imenso, como um oceano de nadas. Como todo o tempo. Como toda a vida que não tem porque não vive, e que não age porque não se move, não comanda esses fios que agora lhe parecem teias de aranha prestes a envolvê-la.

A vida é a perder, contra as teorias de que tudo se transforma e tudo se renova. Perder sonhos, amizades, ilusões, sorrisos, carinhos.
E perco-me de mim.
No silêncio astuto de mim, vou perdendo as lágrimas e as memórias escritas com fios prateados que puxo no azul dourado da espera. No sorriso ausente, perco a contagem da ampulheta que não espera por ninguém.
Perdi hoje.
E a manhã não vai mais ser clara, o riso não vai soar a pássaros, o olhar não vai esconder doces mágicos. Não. Porque estou mais só. Porque hoje cresceu em mim a dor da distância, não a do medo, mas a dos rios e dos oceanos, e do quente deserto que veio para me gelar o coração que só existe para nada encontrar, e aí tentar encontrar-se.
Sou um fio. Sou uma marioneta. Sou um pedaço de nada a nada esconder.



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