Puxo um pouco mais o lençol amarfanhado, e está calor, encontro a ponta que ficou entalada sob o colchão. Nunca cessa de me pasmar, como consigo encontrar as coisas perdidas. As coisas. Estamos e somos rodeados de coisas. Eus e tus, eles e nós, que mais nada são que não coisas.
Abre-se um céu de dúvidas, encontro a lua e ela só me faz rir. E vejo, claras e não difusas, as estrelas onde alicercei toda a minha delirante verborreia. Inspiro, há tanto tempo que não entendia, que não havia perspicácia emocional em mim...
Penso em retrospectiva, sim. Há ano e meio que sei que houve uma flecha desviada que não me devia ter acertado, mas que o fez impiedosamente. Tentei cativá-la, e ela debateu-se, como um pássaro que não suporta grades. Tentei esquecê-la, e ela não me visitou. Encontrei uma outra coisa, uma quase vida, um quase sonho, onde me atraquei, onde fui feliz, onde uma seta destruiu a flecha.
Mas as coisas são muitas coisas. As flechas podem ter asas, como as da fénix, e basta uma faísca para as fazer renascer perigosamente. Demasiado, e eu sou de excessos cortantes e laminares.
Volto a encontrar a ponta do fio. Do lençol mortalha que teci e desteci, que fiz e desfiz. Agora entendo o brilho soturno de tempos idos.
Quero cá estar amanhã ... A ouvir:
Ornatos Violeta - Coisas
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