... foste impregnando o ar com esse cheiro a saudade.
Trouxeste o vermelho de volta. Já me tinha esquecido de como doía o vermelho quando não estás. E até me tinha esquecido de como dói o vermelho quando estás, sem estar. Eras uma dor esbatida, escorrias de uma caverna chamada saudade, mas estavas guardado, num cofre vermelho, guardado e escondido do lado esquerdo. Bem escondido, bem tratado, bem amado, bem esquecido.
Nem tinhas de chegar. Parece que a minha fúria foi contida na indiferença de um sorriso desfeito pelo teu rosto fora. Apetecia-me rasgar-te o sorriso, frustrar-te a indiferença, abanar-te, acordar-te, sabendo que estarias lá.
Nem tiveste de chegar. Bastou levantares a ponta do véu vermelho da saudade, tatuaste vermelho em mim, e por isso não te perdoo enquanto te amar. Ouves? Não te perdoo. Nem por vires lobo manso submisso partilhar a alegria de escutares o passado que nos juntou e nos separou. Não te perdoo. Não te perdoo vires acordares-me da letargia a que nos remeti, ao esquecimento a que te votei. Ainda por cima despertares-me a vermelho... O nosso vermelho. O teu vermelho escrito em mim, escrito vermelho por ti.
Eram fios, lembras? Frágeis, ridos e tecidos. Eram gotas, lembras? Eram sons, eram casulos, eram tocas, eram papéis, eram figuras, eram coisas, coisas simples, coisas simples como éramos nós contra o mundo. Pois bem, o mundo venceu-te, e eu faço parte do mundo agora. O que desprezas, pensado tê-lo amado. Não te perdoo.
Ainda ouço agora. Ainda vejo agora. O teu sorriso, indiferente. A tentar ser indiferente. Carregado e pesado. Não de culpa. Nunca de culpa. Só de distância. Partilha-te com quem quiseres, o mundo espera-te, cheio de nada. Mas não o vermelho. Esse, esse vermelho feito nuvens, feito tempestade, feito palavras feitas livros, feito noites de Verão, feito lonjura, feito foto, feito mais e mais, feito água, vermelho tudo feito nada, esse vermelho, é meu.
(fui ouvir-nos de saudade do que fomos, do que éramos quando fomos mais, do que não seremos quando não formos o abraço que te amo)
"Para mim escrever é, por vezes, como respirar, e outras vezes, como abrir feridas e cicatrizes. Não o faço regularmente por desejo, mas por necessidade. Não sou dona do que escrevo, antes são as palavras que saem de mim como se não as conseguisse conter cá dentro". Encontrámos estas tuas palavras num blog e quisémos apenas deixar-te uma mensagem a dizer apenas isto: há não muitos meses atrás, trocámos uns e-mails com uns ex-profs de univ a quem dissémos exactamente isso... engraçado, no mínimo!:P