Veio de passagem, breve e reluzente. Doce, tão doce como só ele soube algum dia ser. Quis escutá-lo mais tempo, aconselhar-me um pouco, descansar no seu ombro que me conforta enquanto me guia. Estendeu-me a mão quente e suave.
E desfiou novelos de quando eu era forte e árvore encerrada em corpo mulher. Mostrou-me o céu feito de pedaços das minhas asas quando se renovam, e sorriu, num sorriso muito nosso, cheio de abraços. Contou-me como me tinha visto perder em terras alheias, de como sabia que eu tinha segredos num cofre escondido na fonte dos meus rios. E soube escolher as estrelas que não se viam ainda para me lembrar de quando eu bebia a sua beleza e a irradiava em pétalas macias.
Perguntei-lhe ... quis saber, quis entender onde tinha estado quando tinha precisado tanto da sua mão, da sua presença em mim. Rolaram duas lágrimas da sua face enquanto me estendeu um pequeno embrulho, um novelinho frágil de teias de ternura e compaixão. Espreitei, como criança ávida, e vi-a. A minha romã. A minha pequena e magoada romã. Viajara por terras e nuvens longínquas para o encontrar, perdera cor, forma, mas não essência. Não me tinha perdido. E nas suas mãos ganhou vida, pálida, sim, mas renasceu.
Puxei-a para mim. Tremia ao senti-la. Chorei, sim, novamente como uma criança.
Ele levantou-se, ágil, como se os anos não lhe pesassem nos séculos. Percebi que ia partir, e como das outras vezes, ia embora para voltar, sem nunca me deixar. Tatuou-me com tinta invisível um abraço que nunca acaba. Agora sem palavras, fechei os olhos.
Encostei-me à porta fria sem saber se havia de entrar ou sair, escrever-me ou ler-me, falar ou calar. No verde que pintava a porta vi-me a sorrir sem o saber. E rasguei ainda mais o sorriso, cresceu alto e longo para logo se desfazer e estilhaçar no chão duro.
E soube-o. É só mais um começo (mas sou eu quem está no chão) ...
desses novelos que ao desenrolar criam novos novelos ...
:)
sem palavras adoro ler-te... já por cá ando a navegar há um bom pedaço de tempo:)
ó aninhas pk é q as coisas tristes são as mais bonitas?