Fios de fuga
Em 08 agosto 2006 choveram pedacinhos de Green Tea | E-mail this post
Acendo um cigarro e estendo as palavras habilmente. Com jeitinho, para não a cola não secar demasiado depressa.
Olho para elas como se para o outro lado do espelho onde o meu reflexo não mostra a minha imagem. O meu reflexo não sou eu ...
As palavras também não, descubro agora, desvendo-lhes o véu que ocultava o que já sabia, adivinhado com a intuição da dor que se reconhece noutra dor.
E há um brilho imenso, uma chama frágil e fugaz, entre o azul e o metálico, que existe sem fim nem princípio, em que somos alfa e ómega. Somos.
E a dor? Lancinante, agora que regressa com a lua a anunciá-la. Prende-nos em fios de marionetas, essa arte da fuga que encenámos sem concretizar, essa cruz que nos cega de nós e nos eleva onde o céu, azul também, fôr. Somos bonecos de porcelana com cacos feitos de letras e notas musicais, doces, e trocamos sorrisos entre os fios dos outros. Rastejamos em mímica e ninguém nos ouve, mas lemo-nos e sabemo-nos quase de cor. Quase de cor. Sem nos vermos.
Poeira de estrelas caídas e pés colados ao chão, enquanto voamos nos fios que se entrelaçam em nós e nos rasgam. Somos um acto neste espectáculo. E nem sempre somos os actores principais nesta história que escrevemos compulsivamente, que nos devora e nos alimenta. De mar revolto passamos a charco, ganhamos asas e subimos à pirâmide dos sonhos.
Fios de dor? Fios de pele? Atas-me, por favor, estou a escorregar e deslizo para ti ...
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