
Entras. Não pela porta transparente que te fechei tantas vezes. Entras, esvoaças saltitante pela janela dentro, como se soubesses que sempre te esperei na trémula luz artificial. Poisas ao meu lado e aí ficas.
Olhas. E pela primeira vez, sei que me vês. E eu, amor, que me esqueci de por a fita colorida no cabelo, ou pintar os lábios, ou colocar qualquer adorno, violeta, já sabes. E vês-me, assim, como sou, como sempre fui enquanto te esperei noites a fio.
Entras, a medo, sem saberes ao que vens. Também não sei, amor. Ficas, e também não sabes porque persistes ao meu lado. E sabes, como eu sei, sentes, como eu sinto, que estás onde sempre deverias ter estado. Aqui.
E és luz a gotejar rumo aos meus olhos cegos, que cansaram de maldizer a escuridão. És dor que a pele espera, és cravo, és sangue, és morte lenta e és vida fugaz. Eu sou tudo isso em ti, quando nos encontramos na esquina do olhar. Somos isso, a medo, com medo, mas não há retrocesso no brilho escondido nesta rua. Fica...