Por detrás de uma cortina de veludo azul
Em 18 fevereiro 2007 choveram pedacinhos de Green Tea | E-mail this post
Conto os dias ... que se arrastam, desfiando farrapos de tecidos já gastos de tanto serem usados para remendar feridas alheias e presas num outro tempo.
É nesse azul que te perco, longe, para lá dos meus voos. Parece, nesses dias mornos, que falamos em mímicas distintas e desemparelhadas, num ruído estático que nos deixa apenas acreditar no amanhã porque o hoje se afigura vazio. Olho o copo vazio, onde antes mergulhei para te estrangular, não a ti, mas ao que representas. E vejo o vazio, essa distância sem cor, que me chama.
Bebo. Quase que brindo, quase que rio, quase que choro, quase que me colo a esse azul e o visto, apenas para o despir e me encontrar no fundo do copo. Paro quando te ouço, em leve surdina, a trocares todas as palavras por todos os silêncios. És azul. Sem espelho, sem mar e sem fundo. És. Apenas és, sem cor, sem riso, sem cola, sem máscara. E perco-me dentro de ti, solto-me e tento navegar apenas para respirar um pouco mais.
Olho, de longe. Pegas no copo, enche-lo de qualquer coisa que te amordace apenas um pouco, o cansaço desprende-se de ti como se fosse a tua segunda pele. Bebes, bebes de um só trago. Sabe-te a pouco, ou talvez demasiado. Pousas o copo na toalha, e enquanto lambes os lábios, sentes a dor. Latejante. Perdida num fundo azul da parte de trás da tua memória. Esqueces o azul, até ao próximo copo. Sais.
Saio em ti enquanto permaneço no fundo do copo.
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