ONTEMVoltei lá ... tentei falar com ela. E com ele. E com eles. Que são um só. Como eu, que em mim cabem muitas distorções de mim.
Mas não falei, remeti-me ao silêncio de nem saber o que dizer, nem saber, nem tentar. E ela ouviu, eles sorriram e acolheram-me. À saída, a nuvem carregou uma cruz, muda. E o eco surdo das palavras jorrou e inundou toda a ausência do que não é e não foi. Despi o coração e entreguei-o às placas de sinalização. Afastei os olhos de todo o azul, afinal não era uma cruz muda de madeira, mas sim de espinhos, e torturei os meus olhos até à exaustão.
Levo-te. HOJE
Casa. A mesma, a de sempre, a única. Rostos diferentes, gestos diferentes, mas o mesmo rito e a mesma presença. A luz de quem sente que regressa a casa, sem fazer de conta.
O olhar veio e sentou-se ao meu lado direito, onde o banco de madeira terminava. Abraçou-me ao de leve, quase o vi e senti, mas soube que não era preciso.
Falou, contou-me a história de gerações que existiram muito antes de todos os séculos que conhecemos. Repetiu a narrativa dessa viagem magnífica, cheia de dor mas que transborda amor em cada passo. E eu vi, como se entrasse em mim, vi-o ajoelhar-se e servir, vi-o erguer a taça da dor e nas suas mãos adoráveis antevi a traição. Quis gritar-lhe, cuidado, abraçá-lo e protegê-lo, mas o tempo é assim, já passou e a ínfima que sou nada pôde fazer.
Aproxima-se a hora.
Regressei, fez-se tarde e os meus passos ecoavam no escuro e tive medo das paredes nuas. Novamente, senti-o ao meu lado. Sorri, e o cheiro voltou-me à memória, aspirei o ar e o sorriso alargou-se em mim.
Quis que os olhos de quem me vê inconstante me vissem, porque se em mim tudo é maior, em mim o sorriso derramava paz. Paz. A Paz. A minha cruz, a minha paz.
Há demasiado em mim ... mas só Tu sabes.
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