Tenho uma pedra no sapato. Persiste cá dentro, mesmo quando me descalço. Não tem formato, nem cor, nem cheiro, nem luz.
Às vezes mora no meu sapato, outras no meu coração, outras não chega a doer tempo suficiente para a encontrar no meu corpo.
Poderia ser um coágulo de alma, não fosse uma pedra, dura e fria, daquelas que insistem em alojar-se em todos os cantos de pele que encontram. Daquelas cujos ângulos parecem vermelhos como o diabo, a acender a dor de se ser hospedeiro de pedras por imposição. Sem saída. Por mais que esfregue a pele da alma, fica sempre um cantinho de estátua dentro de mim.
Tenho uma pedra no sapato. Tenho uma pedra em mim. Serei estátua erguida a duas mãos quando morrer. Farei uma vénia invisível por ter os olhos abertos quando me visitarem. E persistirei no sapato de alguém, a morar na sua alma, a sufocar o ar de ninguém.
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